quarta-feira, janeiro 31, 2007

Imaginem

Imaginem um contentor cheio de lixo que é deixado cair de uma altura de dez andares.
Cai no chão e explode, esse chão fica num beco onde nunca chega a luz do sol.
Mas à noite sob a luz do candeeiro da iluminação pública os pedaços de revistas, latas, roupas com lantejoulas e restos de comida brilham.
E à distância esse brilho é lindo como o reflexo do sol no mar.
Mas se nos aproximarmos os pormenores brilhantes evoluem para formas, essas formas são lixo puro e simples, se nos aproximarmos mais ainda o fedor sai de todos os pedaços de lixo explodido e cria uma névoa que paira na luz do candeeiro da iluminação pública.
A essa névoa chamamos o “glamour“da televisão.

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terça-feira, janeiro 23, 2007

Coisas que nunca vão ser noticia I

Mortes por anorexia no Sudão.

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segunda-feira, janeiro 15, 2007

O Sindicato

Orgulho-me de fazer parte de um grupo que tenta fazer com que as coisas mudem, nem sempre é fácil mas é sempre bom.
Muita gente diferente um unico objectivo, fazer rir ou pelo menos sorrir. Num país onde parece ser sempre inverno nos olhos das pessoas O Sindicato é uma lufada de ar fresco.
Talvez nos encontrem uma noite destas num bar por ai.



http://osindicato.com

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sexta-feira, janeiro 12, 2007

Maria do Amparo

Foi o dia mais feliz na vida de Maria do Amparo. Depois te ter contado os vinte e um degraus dos três lanços de escadas que separavam o pequeno patamar da porta de entrada da casa da patroa e a portaria do prédio com quase todas as partes do seu corpo roliço, estava feliz.
A patroa, uma condessa, ficara sentada no sofá da sala a olhar para o quadro do marido que ansiosamente a esperava no inferno. A patroa era surda e não ouvira nada, mesmo que tivesse ouvido, o seu primeiro pensamento iria para as velhas escadas de madeira e não para a sopeira que tinha ido comprar cebolas.
Maria do Amparo estava de quatro com a cara encostada ao soalho frio e com os olhar fixo num par de dentes ensanguentados que pareciam deslocados no chão, já se tinha esquecido das cebolas para o chá da condessa.

Maria do Amparo contava mentalmente todos os seus ossos num estado de semi-consciência que lhe parecia a morte.
A face antes encarnada cor de sopeira caminhava agora para o negro azulado de uma trovoada de verão. Os glúteos estavam do lado oposto à cabeça orgulhosamente levantados e descobertos pois a saia comprida e a combinação branca tinham caído sobre a cabeça da pobre.
Estava ela nestes propósitos quando a porta se abriu e ela sentiu uma ligeira corrente de ar nas suas partes.

O Madaleno estivador, vinha da taberna duas portas ao lado para aliviar a bexiga cuja pressão graças às taças de tinto já tinha ultrapassado o limite do aguentável. Ele fazia disso um cerimonial, mijar nas escadas da condessa, além do sentido político, uma pequena vingança do proletário contra a condessa capitalista, era também melhor porque em vez do balde numa dispensa malcheirosa da taberna tinha um vão de escadas que cheirava aceitavelmente, pelo menos até às suas primeiras três viagens da tarde de sábado.
Madaleno o estivador perdeu todas as vontades, ao encarar com as traseiras escancaradas da sopeira da condessa. As carnes fartas e disponíveis misturadas com o vapor do tinto fizeram-no pensar que tinha entrado no ecrã do Olímpia. A sua boca abriu-se tanto que Madaleno quase se esqueceu que era mudo de nascença.
O tempo parou por uns segundos. Depois Madaleno deu uma volta cuidadosamente ao estaminé, o baixar e levantar do corpo descansaram-no pois chegara a pensar que estava morta.
Madaleno voltou à posição inicial junto à porta de entrada, e ficou curiosamente alinhado com a situação, curvou-se ligeiramente até ficar com o nariz a menos de um palmo daquele matagal de pêlos negros, baixou as calças e ajoelhou-se como fazem as pessoas na missa.

Maria do Amparo sentiu as suas carnes separarem-se à força de algo que nunca houvera sentido antes. O torpor da queda misturado com o despertar a sua jovem sexualidade de sopeira levaram-na pensar que morrera e estava no céu. Maria do Amparo bendisse durante mais de meia hora todas as novenas e terços que tinha rezado até então e esqueceu-se completamente que escorregara no tapete quando saíra para comprar cebolas para o chá da senhora condessa.

Madaleno acabou o serviço e limpou-se ao avental, e saiu para sempre da vida de Maria do Amparo.

Felismino do Amparo é cauteleiro na baixa de Lisboa, do pai que nunca conheceu herdou apenas a mudez, da mãe herdou o nome e a estória de que era filho de um Anjo, o mesmo Anjo que lhe partira os dentes da frente. Para Felismino a explicação fora sempre mais que suficiente.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

O outro blog

Pequenos holocaustos são apenas momentos, estórias que saem porque me pedem para sair.
Escritas em minutos e sem serem sujeitas a um trabalho de revisão e apuramento que todos os textos pedem e merecem ter são como pedras toscas num caminho, buracos na estrada da vida .
Vou tentar manter a regularidade real, pois nem tudo o que acontece no nosso pensamento se materializa, neste caso num pequeno post num pequeno blog, conto com o eco dos leitores para matar a procastinação que por vezes me entorpece. Apesar de saber que inevitavelmente eles viverão sempre em mim.

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quinta-feira, janeiro 04, 2007

De quem é a culpa?

A CULPA É DA AGRICULTURA BIOLÓGICA


Todos os tipos de revivalismo são estúpidos, desde os discos de vinil passando pelas camisas às flores tudo parece estar de volta, é a eterna incapacidade do ser humano em aprender. Se hoje não estamos bem e se foram todas as coisas do passado que nos trouxeram até aqui, porquê repetir? No mínimo, parvo.
É neste grupo de revivalismos bacocos que se enquadra a chamada Agricultura Biológica. O conceito é simples, tudo assenta no pressuposto que “o que é natural é bom”, e toda a gente sabe que hoje em dia não há quase nada natural e além disso o “natural” no caso do sexo, por exemplo, pode até ser perigoso.
Só uma mente mesquinha e perversa é que prefere ver mosquitos e outros insectos digladiarem-se para salvar umas folhas de couve e esquecem-se dos filhos dos trabalhadores das fábricas de pesticidas, que podem até ter os pais com cancro mas pelo menos tem pão na mesa.
Se gostam tanto de ver insectos a lutar que comprem um Gameboy.
A questiúncula da Agricultura Biológica é um tropeço no caminho da Ciência, tanto mais que todos os agricultores biológicos são contra os alimentos geneticamente manipulados, vulgarmente conhecidos como transgénicos.
Os transgénicos são bons, viçosos, maiores e com mais proteína, se eventualmente tiverem o ADN no mesmo estado de uma das vítimas de Chernobyl o que é que isso interessa?
Os transgénicos são o futuro, ou acham que aquelas alfaces e cenouras mimadas da Agricultura Biológica estão aptas a sobreviver no mundo moderno das alterações climáticas e da poluição?
Se os dinossauros tivessem sido trabalhados geneticamente por cientistas inteligentes como aqueles que temos hoje, de certeza que já vinham equipados de origem com uns casaquitos de malha e tinham sobrevivido ao período glaciar.
E nos dias de hoje já estamos mais que habituados a mutações, pelo menos desde que existe a TVI e a Liga de Clubes.
Voltando à Agricultura Biológica existe outro problema. É que é “Bi”. E tudo o que é “Bi” é contra natura, a não ser é claro que sejam as duas altas, loiras e malucas!
Se séculos e séculos de Agricultura Biológica deixaram o mundo neste estado não é agora que o vão salvar. É quase a mesma coisa que eu regressar à tasca para voltar a comer a salada de polvo que me provocou a diarreia que ainda me atormenta.
E até Hitler que apesar de ser um homem franzino teve visão suficiente para perceber que o futuro estava predestinado para os mais fortes e mais belos. E se o jovem Adolfo não tivesse tido uns percalços em 1945 de certeza que hoje em dia não estávamos a perder tempo com coisas tão comezinhas como a Agricultura Biológica.

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terça-feira, janeiro 02, 2007

2007

Mais um ano.

Mais um rol de promessas.
Deixar de fumar, ganhar mais dinheiro, amar mais, comprar aquele carro, ir passar aquelas férias, deixar de fumar outra vez.
È sempre a mesma merda, tretas!!!
Era bom apenas ter a certeza de que vamos conseguir fazer alguém um pouco melhor, e devíamos começar por nós.

Mais um começo, mas as pessoas esquecem-se que começamos todos os dias.

PS: Não tenciono deixar de fumar.

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