segunda-feira, março 26, 2007

De quem é a culpa?

A CULPA É DOS DOUTORES

Já calculei e cerca de 80% dos portugueses são doutores. Pode parecer estranho que num país que comporta, suporta e é levado para a frente por 49% de iliteratos funcionais haja tantos doutores, mas que raio Portugal é um país estranho.
Para os menos atentos um iliterato funcional é alguém que faz muito bem as cruzes no boletim do euro milhões, sabe assinar o nome completo, não consegue decifrar uma frase com duas vírgulas e três orações e é sócio do Benfica.
Depois de muito tempo a observar cá os indígenas do burgo a percentagem de 80% de doutores é mais que óbvia.
Existe uma pequena minoria de Doutores verdadeiros em Portugal, são aqueles que estudaram, estudaram e estudam, mas quando me refiro a doutores é claro que não me estou a referir aos verdadeiros, refiro-me ao síndroma de ser “doutor”.
Uma doença que nos afecta cada vez mais, uma espécie de tuberculose cerebral que nos atinge a todos os níveis particularmente quando usamos gravata.
Todo o português aspira a ser doutor, ser tratado como doutor e enfim usar fato completo e levantar o nariz displicentemente quando se cruza com os outros.
Esta estranha mania de todos quererem ser doutores está-nos no sangue desde que Viriato se vendeu aos romanos por meia dúzia de sestéricos. Mesmo durante a grande odisseia dos Descobrimentos se um grumete de segunda, escorbútico e esfarrapado regressasse à sua aldeia natal com duas pepitas de ouro no bolso era logo promovido a doutor e tinha direito a deferências de todos os pastores da serra incluindo momentos de prazer com a melhor ovelha e tudo.
Para o grande “boom” dos doutores que hoje assola o nosso país também contribuiu de sobremaneira a longa travessia do deserto que foi o Estado Novo, (para os iliteratos funcionais aviso que o Estado Novo não é nenhum bar nas docas é sim aquela cena do Salazar).
Durante esses anos o facto da mulher do rico dar à luz e a mulher do pobre parir apenas contribuiu para que toda a gente aspirasse a ser doutor, uma espécie de estado de alma elevado que resolveria todos os problemas de vez.
Depois aconteceu a Revolução dos Cravos, (aquela cena do 25 de Abril), e meia dúzia de guedelhudos sob o efeito de liamba africana despejaram a maior parte dos doutores para o Brasil. Depois voltou tudo ao normal, a classe dos doutores foi logo repovoada inclusive por alguns guedelhudos que tinham atirado pedras durante a revolução.
Mas hoje, em 2007, a questão dos doutores está a atingir proporções ridículas, com a democratização e venda ao desbarato de cursos superiores (aquela cena das praxes e bebedeiras que tens de fazer para ser doutor). Além dos estudantes que terminam a licenciatura como doutores e vão varrer ruas, até os varredores já são técnicos de limpeza e quando dão entrevistas na televisão falam como se a vassoura fosse um microscópio electrónico e o aterro um laboratório.
Um empregado de uma ETAR, com uma bata branca imaculadamente limpa, que passa o dia a olhar cocós que se desfazem numa água fétida é um técnico de tratamento de resíduos sólidos e quando fala connosco bombardeia-nos com um chorrilho de termos pseudo cientificos que provocariam cãimbras numa língua destreinada.
Cada povo tem os doutores que merece, e nós temos estes.

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4 Comments:

Blogger Sandra Marques Augusto said...

"Doutor:
s.m. (lat. doctore). Homem sábio, erudito. Aquele que recebeu de uma faculdade universitária a mais alta graduação desta: doutor em Direito. Por ext.: Bacharel formado. Advogado. Pop.: Médico. Fam.: Homem que tem presunção de sábio. "Doutor da Igreja": teólogo de grande autoridade. Pop "Doutor da mula ruça" : mau médico, curandeiro."

Dicionário Lello, ed. 1978

Está tudo explicado, não é? ;)
S.Star

9:59 da manhã  
Blogger Canelas do Douro said...

Acho que na parte da faculdade, ficou por dizer que tambem temos por aí muitas Sras Doutoras e tambem alguns Srs Doutores que para alem das praxes e bebedeiras tinham uma maneira muito propria de dar o "phone number", colocando-o nos classificados dos diarios, acho que as aulas de anatomia eram postas em pratica nos luxuosos apartamentos anunciados!

4:50 da tarde  
Blogger Eduardo Ramos said...

Não é por nada, mas esta onda do doutores está para acabar!
Agora vem aí a nova moda do MESTRE!

... O meu pai é marceneiro reformado. Mas fez coisas muito giras! Durante a vida dele foi evoluindo e por volta do 55 anos foi promovido a MESTRE!
O meu pai é agora um MESTRE de 67 anos!
É de se lhe tirar o chapéu!

8:35 da tarde  
Blogger Lali said...

Devo ter-me perdido nos genes, dado que já frequentei a bela da faculdade, desisti ao final d 6 meses e ainda hoje me questiono se devo voltar...

Mas isto tudo para dizer o quê?
Para agradecer o teu comment e fazer uma comparação...
Se eu tenho uma ilha, tu tens uma enciclopédia...e eu adoro pesquisar. Também voltarei.

(^_^)

12:43 da tarde  

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